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Autoria: Cláudia Marques
Data Protection Agent na Wondercom

Quando surgiram, as redes sociais trouxeram inúmeras coisas maravilhosas, como reencontrar antigos colegas e amigos; partilhar álbuns de fotografias com pessoas próximas e até recolher fundos para tratamentos de saúde que, de outra forma, não seriam conseguidos. Na realidade, durante muito tempo, as redes sociais pareciam ser só vantagens: um produto criado com o único objectivo de servir os utilizadores.

Mas as redes sociais são um negócio – o maior negócio do século XXI – e o seu produto somos todos nós que, de uma forma ou de outra, estamos lá registados e as usamos.

O Dilema das Redes Sociais é um excelente documentário (comentado por ex-executivos da Google, Facebook, Instagram, Pinterest, etc.) que nos mostra o lado interno das redes sociais e explica o funcionamento do seu segredo mais bem guardado: o algoritmo. Ou seja, o modo como, através dos dados que partilhamos nas redes, a inteligência artificial consegue decifrar a forma como pensamos, quais os nossos interesses, quem somos, o que vai atrair a nossa atenção, quais as nossas tendências políticas, qual o nosso tipo de personalidade o que nos emociona, se estamos tristes ou alegres, as causas que defendemos, o nosso grau de permeabilidade a determinados anúncios, etc. ( as possibilidades são infinitas).

É através dessa informação que empresas como o Facebook ou o Google, conseguem vender o sonho de qualquer publicitário: a garantia de que um anúncio vai ter sucesso. As redes sociais vendem essa certeza, que mais ninguém tem, porque dispõem de uma quantidade gigante de dados que lhes permite fazer previsões enormes e bastante precisas sobre as nossas acções (que emoção nos estimula determinado anuncio, que vídeos gostamos de ver, em que anúncios clicamos quando estamos felizes ou tristes).

Hoje, chama-se a esta possibilidade de lucrar com um infinito rastreio do comportamento humano, capitalismo de vigilância, que mais não é que uma forma de nos manipular, usando a psicologia contra nós.

Por exemplo, se duas pessoas de cidades distintas e diferentes faixas etárias,  forem ao Google pesquisar por “alterações climáticas” serão diferentes os resultados que lhes vão aparecer, porque são baseados nos dados que existem sobre a opinião que as pessoas do mesmo local e com a mesma idade do utilizador costumam ter sobre o tema e, ainda, nos dados que o Google dispõe sobre o próprio utilizador (se é um negacionista das alterações climáticas ou se simpatiza com causas ambientais).

Muitos dirão que tudo isto é inofensivo, afinal só serve para nos impingirem uns anúncios. Não é assim, as possibilidades de utilização dos nossos dados através da Inteligência Artificial, são infinitas e hoje, por exemplo, já há indícios bastante fortes do seu aproveitamento para interferir em eleições democráticas nas Filipinas, no Quénia e nos Estados Unidos da América.

Perceber a enorme quantidade de dados que cedemos diariamente e que, através deles, é possível saber quase tudo sobre nós é assustador, mas essa tomada de consciência pode ser importante para alterarmos o nosso comportamento.

Mas, o que podemos fazer para limitar a possibilidade de sermos manipulados?

O mais eficaz seria apagar todas as redes sociais, o  que não é muito apetecível face ao impacto destas nas nossas vidas. Em alternativa, podemos alterar as nossas definições de privacidade para restringir, tanto quanto possível, os dados que partilhamos, assim como, podemos desligar todas as notificações, não aceitar recomendações de páginas ou de vídeos e limitar o tempo que passamos nestas plataformas.

A melhor forma de visualizar isto é pensar em  2,5 biliões de Truman Show’s. Cada pessoa tem sua realidade com seus próprios factos. Com o tempo, passa a ter a falsa sensação de que todos concordam com ela, porque todos no seu feed de notícias soam como ela. Nessa fase, qualquer um é facilmente  manipulado. ”  Roger McNamee, um dos primeiros investidores do Facebook

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